Introdução
As crianças diagnosticadas com transtorno do espectro do autismo (ASD) apresentam comportamentos repetitivos, têm dificuldade com a comunicação e enfrentam desafios na socialização com os outros. Enquanto as crianças com ASD exibem uma combinação desses sinais, é de extrema importância nos concentrarmos em tratar as causas subjacentes. A abordagem biomédica do autismo visa resolver os problemas genéticos, epigenéticos e bioquímicos, que são as causas subjacentes dos sintomas de nossas crianças. Epigenética é o processo pelo qual o nosso DNA se expressa. Isto ocorre através da ativação e desativação de genes e pode ser severamente afetado pelo ambiente. Insultos do ambiente levam a várias alterações bioquímicas epigenéticas, por sua vez, levam a mudanças na forma como se comportam as crianças com ASD. Essas agressões ambientais podem levar a mudanças bioquímicas que se manifestam como ciclos viciosos. A abordagem biomédica do autismo visa interromper estes ciclos viciosos em um esforço para restaurar a funcionalidade.
Esta abordagem pode ser resumida como "tirar o que prejudica, e dar o que cura." Esta abordagem, tentar interromper os vários ciclos viciosos, incluindo disfunção gastrointestinal, metilação deficiente, desintoxicação deficiente, e desregulação do sistema imune. Porque estas crianças têm problemas metabólicos subjacentes causados pela genética, epigenética, e toxicidades adquiridas do ambiente, elas melhoram quando tratamos estes problemas metabólicos. ASD é emocionalmente desgastante para os pais e tremendamente difícil de descobrir por um médico, por isso, as crianças com ASD alcançam benefícios maiores quando as intervenções biomédicas são feitas em conjunto com as terapias adequadas de comportamento. É quando nós aplicamos a abordagem biomédica que as crianças com ASD fazem os maiores avanços comportamentais!
Identificar deficiências minerais e vitamínicas
Corrigir as deficiências de vitaminas e minerais por meio de suplementação é um componente essencial para restaurar a saúde de nossas crianças. Muitas crianças com ASD são seletivas, com um repertório limitado na dieta. Além disso, dietas terapêuticas de exclusão (sem glúten e caseína, dieta de carboidratos específicos, etc) são estratégias de tratamento prioritárias, mas podem ampliar a necessidade de suplementação nutricional. Esses fatores, quando combinados com uma tendência para má digestão e absorção inadequada de nutrientes dos alimentos, podem resultar em deficiências nutricionais.
Deficiências comuns minerais e vitamínicas em crianças com ASD incluem zinco (1, 2), vitamina B6 e magnésio (3,4), ácidos graxos essenciais (EFAs) (5,6,7), vitamina A, vitamina D e vitamina E, para citar apenas alguns. Estabelecer o protocolo de suplementação correta para uma criança com necessidades nutricionais individuais irá melhorar a eficácia de outras intervenções biomédicas. A suplementação pode ajudar a reduzir o efeito negativo dos ciclos viciosos através da promoção da metilação, melhorando a desintoxicação, o fortalecimento do sistema imunológico e reduzindo o estresse oxidativo. Muitas das famílias dos meus pacientes relatam que as taxas de aquisição de novas competências aumentam assim como o aprendizado geral, uma vez que as necessidades nutricionais foram superadas.
Apesar da nossa compreensão geral de que as crianças com ASD requerem algum tipo de suplementação nutricional, é importante prestar atenção nas carências de cada um. A melhor maneira de determinar as necessidades específicas de seu filho é consultar com um médico que realiza os testes iniciais para estabelecer uma base. Esteja ciente de que o uso de algo que está disponível como um produto pronto não o torna necessariamente seguro para sua criança ou apropriado para sua situação.
Satisfazer as necessidades nutricionais de seu filho é uma das melhores maneiras de estabelecer uma base firme para outras intervenções biomédicas que você possa estar pensando. Pode ser uma das maneiras menos invasivas e mais rentáveis para começar a melhorar a saúde de seu filho!
Recuperar o intestino
Mudanças na dieta podem ser fundamentais para cuidar de crianças com autismo. No Holland Center and Clinic, nós comumente solicitamos a dieta SGSC como uma intervenção precoce. 8, 9,10 Freqüentemente há muitas pistas no exame físico e história do paciente que nos levará a uma sugestão dietética específica. A "teoria dos opiáceos" sugere que tanto o glúten e a caseína podem ter um efeito opiáceo no cérebro de seu filho. Devido à atividade defeituosa de enzimas digestivas no intestino (comum em ASD), o glúten e a caseína permanecem sem serem digeridos. Estas partículas não digeridas permanecem em circulação e podem imitar os efeitos dos opiáceos. É bastante comum conhecer histórias de crianças que consomem grandes quantidades de alimentos ricos em glúten e caseína e, em seguida, exibem o efeito de opiáceos. A enzima que muitas vezes não funciona corretamente é DPP-IV (dipeptidil peptidase-IV). Ingerir enzimas digestivas específicas podem ajudar à digestão, o que leva a uma diminuição da resposta inflamatória aos alimentos. A inflamação no intestino conduz a um ciclo vicioso de permeabilidade da parede intestinal alterada, aumentando a reação aos alimentos. As enzimas também podem ter um efeito positivo sobre a metilação porque quando a metilação é suportada, a desintoxicação melhora, levando a uma melhoria geral na saúde do seu filho.
Um dos elementos-chave em melhorar a saúde digestiva é restaurar o equilíbrio no intestino. O sistema digestivo é o lar de bactérias saudáveis, bactérias insalubres, e leveduras. Quando estes três elementos não estão em equilíbrio, uma criança pode desenvolver disbiose. Esse desequilíbrio faz com que o crescimento de levedura, leve a problemas de comportamento, agressividade, distúrbios do sono, distúrbios intestinais e inúmeros outros. Ajustes na dieta e suplementação podem ajudar a controlar a disbiose. Infelizmente, o mau uso de antibióticos na comunidade médica tem levado a muitas crianças desenvolver a disbiose. Felizmente, o controle de leveduras através de intervenções dietéticas, prebióticos, probióticos (boas bactérias), e 11 Saccaromyces boulardii (levedura boa) pode ajudar a expulsar as bactérias ruins. Quando necessário, prescrições de medicamentos antifúngicos são muitas vezes incorporadas para ajudar a restaurar o equilíbrio no intestino.
Desintoxicação em um Mundo Tóxico
O mundo em que vivemos é tóxico, e crianças com ASD são geneticamente predispostas a serem suscetíveis a esta toxidade. Nossos filhos estão sendo bombardeados diariamente por substâncias químicas que estão afetando seus ciclos de metilação e desintoxicação.12
Estes ciclos afetam negativamente o sistema imunológico, a função cerebral, e a saúde em geral.13, 14 Quando o corpo está sob estresse tóxico, tem que ajustar seu metabolismo para lidar com o estresse. A metilação é o processo pelo qual o corpo ativa os seus genes ligando-os e desligando-os. Quando a metilação não está funcionando corretamente, ela precisa ser "resgatada" por um sistema de desintoxicação saudável. Quando o sistema de desintoxicação de uma criança é esmagado, a criança está perpetuamente em um ciclo vicioso de toxicidade.
Em um esforço para reduzir o efeito negativo que o ambiente tem sobre as vias de desintoxicação do seu filho, você pode começar por reduzir a carga tóxica. Há muitas estratégias que os pais podem implementar para começar este processo, alguns com relativa facilidade:
* Compre alimentos orgânicos
* Purifique sua fonte de água
* Use produtos naturais de limpeza
* Evite pesticidas em seu gramado
* Evite retardadores de chama, sempre que possível
* Coloque um purificador de ar no quarto de seu filho
* Remova o bisfenol-A (BPA), fitalatos (plásticos moles), e químicos que imitam hormônios.15
Ao reduzir a carga tóxica, queremos limitar a quantidade de produtos químicos que podem afetar a metilação de uma criança e as vias de desintoxicação. Apesar dos melhores esforços para fazer escolhas saudáveis e viver um estilo de vida "verde", é praticamente impossível eliminar todos os níveis de contato com as toxinas. Os instrumentos primários deste processo são o fígado, rins, e o trato gastrointestinal. Felizmente para nós, nossos corpos possuem uma incrível capacidade de desintoxicar. Essencialmente, estamos todos expostos a riscos ambientais em uma base diária, no entanto, alguns de nós estão mais preparados geneticamente para desintoxicar a nós mesmos. Se pudermos reduzir a carga tóxica e melhorar os caminhos de metilação e desintoxicação, podemos ter efeitos positivos dramáticos para a saúde em nossas crianças.
Nós sempre comprovamos que crianças com ASD possuem sistemas de desintoxicação naturais deficientes, resultando num aumento incrível de lixo metabólico.16, 17 Nós, como pais e médicos, precisamos implementar estratégias para reduzir a toxidade química dos nossos filhos e os níveis de toxicidade de metais pesados. Algumas ferramentas na abordagem biomédica do autismo que se destinam a estas questões são:
* Aumentar o apoio antioxidante
* Terapia com glutationa
* Suplementação de vitamina B12
* Terapia de quelação
* Sauna de infravermelho
Imunidade e Inflamação
Há um consenso geral entre a comunidade médica que a inflamação sistêmica desempenha um papel significativo no autismo. De grande preocupação para nós é a inflamação gastrointestinal e neurológica. Qualquer tipo de inflamação crônica, independentemente da sua fonte de origem, pode ter um impacto negativo sobre o cérebro. Quando a inflamação ocorre no intestino, pode conduzir a um sistema imunitário que se torna desregulado. Inflamação provoca um sistema imunológico desregulado, o que pode levar a infecções crônicas, alergia e autoimunidade. O sistema imunológico desregulado pode produzir anticorpos contra o cérebro no ASD, causando lesão cerebral.
Felizmente, temos vários meios à nossa disposição para resolver esta resposta inflamatória. Por exemplo, Actos é um medicamento originalmente usado para controlar os níveis de açúcar no sangue em diabéticos. Também tem sido demonstrado que têm efeitos anti-inflamatórios em crianças com TEA. A espironolactona é mais comumente usada como um medicamento para tratar a pressão arterial elevada. Espironolactona também demonstra propriedades imunológicas modificadoras, além de ser um potente anti-inflamatório.18
A grande discussão recentemente tem-se centrada sobre o uso de oxigenoterapia hiperbárica (OHB) para o autismo. OHB utiliza concentrações aumentadas de oxigênio em um ambiente com maior pressão atmosférica do que a normal, levando a uma maior quantidade de oxigênio dissolvido no sangue do que pode é conseguido sob condições normais. (Veja também o artigo do Dr. Lauren Underwood "Entendendo o uso de oxigenoterapia hiperbárica como uma opção de tratamento para crianças com autismo" na edição # 34.) As crianças com ASD geralmente apresentam sinais e sintomas de neuroinflamação e lesão cerebral, e oxigênio tem um efeito curativo sobre o tecido danificado. Então, crescentes níveis de oxigênio, aumentam as taxas de cura. Usar a alta pressão da OHB permite que o oxigênio para penetre mais profundamente nos tecidos danificados. Uma pesquisa em curso suporta esta intervenção como uma opção de tratamento, não-invasiva para crianças com ASD.19, 20
Conclusão
A abordagem biomédica para o tratamento do ASD é um esforço para restaurar o equilíbrio bioquímico nas nossas crianças. Fazemos isso através da interrupção de um ou mais dos ciclos viciosos que podem estar ocorrendo em seu filho. Embora saibamos que a ASD possui um componente genético, os insultos ambientais que estão contribuindo na epigenética para a nossa atual epidemia! 21 A disfunção gastrointestinal, a metilação diminuída, a desintoxicação deficiente, e alteração no sistema imunológico são os ciclos que precisam ser abordados. Encorajo-vos a construir um relacionamento com um médico que tenha sido treinado a utilizar a abordagem biomédica. Através de extensa história, exame físico minucioso, cuidadoso e com análise laboratorial, podemos criar um plano terapêutico global para o seu filho. Ao tratar a origem do problema biomédico, nós damos a sua criança uma chance de melhorar de comportamento. As crianças com ASD respondem à intervenção comportamental, mas eles o fazem com mais sucesso quando a sua saúde é restaurada!
Referências:
1 Yorbik O, et al. Zinc status in autistic children. J Trace Elem Exp Med. 2004;17(2):101-107.
2 Bilici M, et al. Double-blind, placebo-controlled study of zinc sulfate in the treatment of attention deficit hyperactivity disorder. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry. 2004;28(1):181-90.
3 Mousain-Bosc M, et al. Improvement of neurobehavioral disorders in children supplemented with magnesium-vitamin B6. II. Pervasive developmental disorder-autism. Magnes Res. 2006;19(1):53-62.
4 Mousain-Bosc M, et al. Magnesium VitB6 intake reduces central nervous system hyperexcitability in children. J Am Coll Nutr. 2004;23(5): 545S-548S.
5 Meguid NA, et al. Role of polyunsaturated fatty acids in the management of Egyptian children with autism. Clin Biochem. 2008 Sep;41(13):1044-8.
6 Amminger GP, et al. Omega-3 fatty acids supplementation in children with autism: a doubleblind randomized, placebo-controlled pilot study. Biol Psychiatry. 2007;61(4):551-3.
7 Stevens LJ, et al. Omega-3 fatty acids in boys with behavior, learning, and health problems. Physiol Behav. 1996;59(4-5):915-20.
8 Whiteley P, et al. The ScanBrit randomised, controlled, single-blind study of a gluten- and casein-free dietary intervention for children with autism spectrum disorders. Nutr Neurosci. 2010 Apr;13(2):87-100.
9 Knivsberg AM, et al. A randomised, controlled study of dietary intervention in autistic syndromes. Nutr Neurosci. 2002;5(4):251-61.
10 Hsu CL, Lin CY, Chen CL, Wang CM, Wong MK. The effects of a gluten and casein-free diet in children with autism: a case report. Chang Gung Med J. 2009;Jul-Aug;32(4):459-65.
11 Erdeve O, et al. The probiotic effect of Saccharomyces boulardii in a pediatric age group. J Trop Pediatr. 2004 Aug;50(4):234-6.
12 DeSoto MC. Ockham’s Razor and autism: the case for developmental neurotoxins contributing to a disease of neurodevelopment. Neurotoxicology. 2009 May;30(3):331-7.
13 Windham GC, et al. Autism Spectrum Disorders in Relation to Distribution of Hazardous Air Pollutants in the San Francisco Bay Area. Environmental Health Perspectives. 2006 September;114(9):1438-1444.
14 Adams JB, et al. The severity of autism is associated with toxic metal body burden and red blood cell glutathione levels. J Toxicol. 2009;2009:532640.
15 Diamanti-Kandarakis E., et al. Endocrine-Disrupting Chemicals: An Endocrine Society Scientific Statement. Endocrine Reviews 30(4): 293-342.
16 Nataf R, et al. Porphyrinuria in childhood autistic disorder: implications for environmental toxicity. Toxicol Appl Pharmacol. 2006. 214(2):99-108.
17 Geier DA, et al. Biomarkers of environmental toxicity and susceptibility in autism. J Neurol Sci. 2009;280(1-2):101-8.
18 Bradstreet JJ, et al. Spironolactone might be a desirable immunologic and hormonal intervention in autism spectrum disorders. Med Hypotheses (2006), doi:10.1016/j.mehy.2006.10.015
19 Rossignol DA, Rossignol LW. Hyperbaric oxygen therapy may improve symptoms in autistic children. Medical Hypotheses. 2006;67: 216–228.
20 Rossignol DA, et al. Hyperbaric treatment for children with autism: a multicenter, randomized, double-blind, controlled trial. BMC Pediatr. 2009 Mar 13;9(1):21.
21 Deth R, et al. How environmental and genetic factors combine to cause autism: A redox/methylation hypothesis. Neurotoxicology. 2008: 29(1):190-201.
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