Tenha a gentileza e a ética ao reproduzir os textos originais deste blog ou de qualquer outro, colocar claramente a fonte de onde foi retirado, no início ou na apresentação do texto com um link direto para o texto original. Poucos criam enquanto o restante todo copia.

sábado, 24 de março de 2012

Autismo e a Síndrome de Deficiência de Receptores de Folato



Por Claudia Marcelino:

Ao tomar conhecimento desta pesquisa publicada no Neuropediatric Journal em 2007, fiquei impressionada por dois motivos:
- 1º por ter sido feita diretamente com pacientes e não com ratos;
- 2º pelos  pacientes terem recebido um tratamento relativamente simples: níveis adequados de folato via oral e com isso apresentado bons resultados em um prazo curto, apenas um ano.

25 crianças entre 2 e 12 anos, com diagnóstico de autismo clássico de Kanner com e sem déficits neurológicos, foram examinadas para a constatar-se o nível de fosfato no fluido cerebro-espinal, embora todas as crianças apresentassem níveis normais de folato no plasma sanguíneo.
23 crianças apresentavam baixos níveis no cérebro e 19 delas também apresentavam auto anticorpos aos receptores de folato.

A autoimunidade aos receptores de folato ou a redução do transporte de folato  que atravesse a barreira hemato encefálica parece representar um fator muito importante no desenvolvimento do autismo para pelo menos uma parcela dos pacientes diagnosticados com a síndrome.
O fluido cerebro espinal destes pacientes foi obtido através de pulsão lombar e cuidadosamente preparados para a detecção dos níveis de 5MTHF conforme descrito na pesquisa e comparados com os níveis de pacientes saudáveis na mesma idade.
Para os pacientes detectados com baixos níveis de 5MTHF foi estabelecido um protocolo de tratamento com administração oral de 1 mg de folinato de cálcio para cada quilo de peso, divididos em 2 doses, durante aproximadamente um ano com acompanhamento dos níveis no fluido cerebro espinal aos 3 e 6 meses de tratamento e avaliações através de escalas de diagnóstico para os défictis de comunicação, sociabilidade e interesses.

Dois pacientes que foram diagnosticados precocemente, aos 2 anos e 8 meses e outro aos 3 anos e 2 meses e receberam o tratamento, foram curados com a total recuperação do autismo e déficits neurológicos.
Três pacientes mais velhos diagnosticados e tratados a partir da idade de 4, 9, 8 e 11,9 anos, não se recuperaram do autismo, mas apresentaram melhoras dos seus défictis neurológicos.

Os outros 13 pacientes na faixa etária entre três e sete anos, mostraram uma boa resposta após o tratamento com melhoria da maior parte dos défictis neurológicos, mas apenas recuperação parcial do seu autismo.

Esta recuperação se apresentou da seguinte forma:

- Melhoria do comprometimento social de 4 entre os 13 pacientes;

- Reversão da comunicação prejudicada em 9 dos 13 pacientes;

- Desaparecimento de comportamento e interesses restritos perseverantes em 6 dos 13 pacientes.

O percentual de melhoria global e melhoria de cada recurso mostrou uma tendência de melhor resultado se o diagnóstico e tratamento acontecerem em uma idade mais precoce.
O tratamento também mostrou-se efetivo no alívio de convulsões e ataxia, mas apresenta uma resposta baixa na irritabilidade e demostra-se sem efeito sobre discinesias, retardo mental e autismo em pacientes mais velhos.

O exame de níveis de folato no fluído cerebro espinal de pacientes com suspeita de autismo clássico, pode vir a ser determinante para o tratamento efetivo do distúrbio.

Para maiores informações:

http://www.garabedianproperties.com/Info/ramaekers2007.pdf

domingo, 4 de março de 2012

Autismo, Vit. D - Sulfatação e Intestino Permeável:





Por Claudia Marcelino.

Como eu já comentei aqui no blog na 1ª postagem sobre a vit. D, eu estou realmente perplexa no quanto ela influencia todas as questões conhecidas envolvidas no autismo, seja na sua origem, seja no seu agravamento.
Acompanhando o trabalho do Dr. Bradstreet, surgiu o interesse de conhecer mais sobre a vit. D, até então com a sua importância totalmente desconhecida para mim. E é realmente muito promissor o que o entendimento em manter um nível adequado desta vitamina pode ajudar na qualidade de vida de nossas crianças.

Já falei aqui na 1ª postagem sobre o seu envolvimento no sistema imunológico que pode estar contribuindo com muitos casos de autismo. Hoje falo sobre seu envolvimento na sulfatação e no intestino permeável, o que também contribui na imunologia, já que 70% do nosso sistema de proteção encontra-se no intestino.

Desde 2007 meu filho faz uma dieta rígida que eu denomino como a DAMA - Dieta Amiga do Autista.
Nesta dieta não entra glúten, leite, soja, açúcar, corantes, aditivos neuro excitatórios como glutamato monossódico e aspartame e alimentos alergênicos.
A princípio eu sabia que ele era alérgico a alho e mandioca. E mesmo tendo uma alimentação super controlada, melhorando visivelmente dos sintomas que foram agravados pelo autismo, nos últimos 2 anos ele foi ficando cada vez mais reativo a um número maior de alimentos como vocês podem ver na postagem "Alergia Cerebral e Autismo".
Seu comportamento se mantinha controlável desde que os alimentos fossem mantidos longe. Cada vez que ele consumia acidentalmente algum dos alimentos, as reações ficavam mais graves e demoradas. Ao mesmo tempo, cada vez mais eu percebia que ele reagia a alimentos que não apresentava reação antes, principalmente fenóis. A intolerância a fenol complica muito o caso porque há muitos alimentos ricos em fenóis (chocolate, frutas silvestres, cítricos, tomate, oleaginosas...), o que restringe enormemente as opções de alimentação. Compostos fenólicos dependem de moléculas de sulfato na fase II de desintoxicação do fígado para serem excretados. Não havendo sulfato suficiente, há um acúmulo de fenóis no corpo gerando aumento de toxinas.
Ele passou a ter verdadeiros surtos psicóticos muito desgastantes. Obviamente alguma coisa estava errada e o mais óbvio é chegar a conclusão de que seu intestino estava hiper permeável.
Um intestino permeável permite que alimentos parcialmente digeridos entrem na corrente sanguínea ativando reações alérgicas.

O que gera um intestino permeável?

- Disbiose intestinal: predominância de bactérias patogênicas, Candidiase e fungos;

- Alimentação inadequada rica em amidos e carboidratos refinados;

- Baixa sulfatação. Como eu comento no meu livro, a baixa concentração de sulfato altera a função dos glicosaminoglucanos heparansulfatados que seria entre outras, manter as células da mucosa intestinal unida.

Sabendo disso, parti para a eliminação: meu filho não tem problemas de disbiose e nem uma alimentação rica em amidos que propiciasse esse desequilíbrio. Em compensação, o problema de sulfatação foi comprovado em laboratório. Nos mesmos exames seu nível de vit. D no plasma estava baixíssimo 15ng/ml. Abaixo de 20 ng/ml é uma deficiência significativa que pode gerar consequências graves. Um nível entre 70 e 100 ng/ml seria o ideal para pacientes crônicos.

Já que passei a ver tanto distúrbio envolvido com a vit. D, comecei a me perguntar: Será que a deficiência de vitamina D poderia estar afetando os níveis de sulfato e com isso deixando seu intestino cada vez mais vulnerável?
Parti para a pesquisa e... não é que tem tudo a ver?!

Estes são alguns dos resultados encontrados:

- Uma das proteínas chaves envolvidas no transporte transcelular de sulfato é a NaSi-1 e a vit. D controla este processo através da expressão desta proteína. Como a expressão desta proteína acontece nos rins, há uma grande excreção de sulfato na urina e os níveis plasmáticos são diminuídos em 50%.  O aumento da disponibilidade de vit. D altera a expressão desta proteína aumentando a sulfatação;

- Outra proteína que também transporta sulfato e se expressa nos rins a NA-SO4, também é afetada pela deficiência de vit. D. Na pesquisa, a suplementação de vit. D resultou numa normalização dos níveis plasmáticos de sulfato, na normalização da proteína e na excreção urinária de sulfato;

Os receptores de vitamina D desempenham um papel crítico na homeostase da barreira intestinal, preservando a integridade dos complexos de junção e da capacidade de cicatrização do epitélio do cólon. Portanto, a deficiência de vitamina D pode comprometer a  mucosa intestinal, levando a susceptibilidade à danos.


- O sulfato é essencial na formação das proteínas de mucina que cobrem as paredes do intestino. Estas proteínas tem duas funções importantes:  barrar o  vazamento do conteúdo do intestino e bloquear o transporte de toxinas do intestino para a corrente sanguínea.


- O sulfato é necessário para liberar a cascata de enzimas digestivas pancreáticas: proteases, amilases e lipases. Sem elas os alimentos não são digeridos corretamente agravando a situação do intestino e das alergias e disbiose;

Referências:

- Critical role of vitamin D in sulfate homeostasis: regulation of the sodium-sulfate cotransporter by 1,25-dihydroxyvitamin D3: http://ajpendo.physiology.org/content/287/4/E744.full

- Abnormal Sulfate Metabolism in Vitamin D–deficient Rats
Isabelle Fernandes,* Geeta Hampson,* Xavier Cahours,‡ Philippe Morin,‡ Christiane Coureau,* Sylviane Couette,*Dominique Prie,* Jürg Biber,§ Heini Murer,§ Gérard Friedlander,* and Caroline Silve*
*Inserm U 426, Faculté Xavier Bichat and Université Paris VII, Paris, France;
‡Institut de Chimie Organique et Analytique and URA CNRS 499, Université d’Orléans, Orléans, France; and § Department of Physiology, University of Zürich, Zürich, Switzerland.


Novel role of the vitamin D receptor in maintaining the integrity of the intestinal mucosal barrier: http://ajpgi.physiology.org/content/294/1/G208.abstract?cited-by=yes&legid=ajpgi;294/1/G208

- Sulfate and Sulfation
http://www.epsomsaltcouncil.org/articles/sulfation_benefits.pdf

Conclusão:

Em caso de constatação de alergia alimentar múltipla, hiper permeabilidade intestinal e intolerância a compostos fenólicos, além das medidas profiláticas de afastar os alimentos indevidos da dieta, suplementar com enzimas digestivas e enzimas próprias para a degradação de fenóis, é importante direcionar os níveis de sulfato bio disponíveis e de vitamina D para um processo adequado de sulfatação.
Lembrando que um médico ou nutricionista qualificado é que deve direcionar o tratamento e as indicações, visto que há casos de mutações genéticas e problemas com bactérias que podem ser agravados com altos níveis de sulfato disponíveis.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Autismo poderia ser causado por micróbios?

Por Claudia Marcelino.

Esta é a pergunta que está levando cientistas do mundo todo a trabalhar para descobrir a resposta.
Aqui no blog eu já coloquei a tradução de 2 entrevistas do programa Autism Enigma da rede Canadense CBC, justamente falando sobre o trabalho de alguns cientistas em provar a correlação dos sintomas do autismo com infestação de bactérias. A 1ª matéria está aqui, a 2ª matéria está aqui.

Neste último mês de fevereiro, a revista Science et Vie, publicou um artigo: La Faute aux Microbes - A Culpa é dos Micróbios, discutindo que os distúrbios da mente e do cérebro como Alzheimer, Parkinson, Autismo e Depressão, poderiam ser de origem bacteriana. Esta idéia ainda causa surpresa e choque em muitos, mas as evidências estão crescendo, trazendo esperanças na mudança terapêutica para milhares de pessoas. Em 1881, Louis Pasteur já dizia que "os males da alma" poderiam ser a representação de doenças infecciosas comuns.
Uma amiga que leu a matéria disse que em resumo, estava escrito:
Desde 1990, está sendo observado que 43% das mães de autistas tiveram infecção durante a gestação;
Em 1998 uma mãe de autista sugeriu o desequilíbrio na flora intestinal com uma infestação da bactéria Clostridium tetani (é a do tétano);
Anne Maccartney (professora na universidade de Reading - Inglaterra) confirmou esta observação anterior;
Outro estudo aponta a bactéria do gênero Desulfovibrio;
Vários autistas tem sido submetidos a um tratamento com antibióticos e tem melhorado;
Há uma hipótese que os autistas tem um problema genético que os impede de digerir o açúcar e de absorver os alimentos.




Logo após a revista ter chegado as bancas, um programa de televisão também francês, pôs no ar uma matéria: Poderia o autismo ser curado com antibióticos?
Neste programa são entrevistados o Prof. Montagnier (virologista, prêmio Nobel de medicina em 2008 e descobridor do retrovírus causador da AIDS) e o Prof. Perrone, médico especialista em doenças infecto contagiosas.

Este é o vídeo da matéria da televisão francesa e logo abaixo encontra-se a transcrição em português das legendas.




Avanços muito promissores: seremos capazes de curar o autismo graças aos antibióticos?
Parece inacreditável e ainda em muitos casos, funciona e os sintomas desaparecem.
Esta é a hipótese lançada por alguns cientistas norte-americanos e alguns médicos franceses também estão liderando este caminho na luta contra o autismo.

 
200 adultos jovens com autismo já se beneficiaram com estes tratamentos, aqui está a matéria de Claudine e Gilbert Pasquier Antoine.

 
(Duas crianças, com idades entre cerca de 10, estão jogando tranquilamente dentro da casa eles também estão juntos conversando muito "normalmente")
Comentário: Nada incomum é notado com o menino mais jovem, ele é falante e está à vontade na frente da câmera, mas ele é autista. À sua mãe foi dado um diagnóstico oficial em 2008, após muitos anos de ponderações ansiosas. Alexandre de repente parou de se comunicar quando ele tinha 18 meses de idade.

 
Laurence Raguenet (mãe de Alexandre): «ele se fechou em si mesmo, ele não prestava mais atenção ao que lhe perguntavam, ele parecia perdido em seus pensamentos, perdido em seu próprio mundo, podíamos ver que ele não prestava atenção, ele era totalmente ausente.
Comentário: Nessa época, ele também tinha olheiras sob seus olhos, ele sofria de dores de cabeça, eczema e coceira, que o faziam se sentir exausto. Hoje seus problemas de saúde  praticamente desapareceram. Com a obtenção de toda a sua energia de volta, o menino também recuperou o gosto pela aprendizagem.
Ele deve esta metamorfose completa a um médico que descobriu o culpado por seus problemas: a doença de Lyme causada por bactérias transmitidas por carrapatos. Tratar esta infecção crônica teve efeitos positivos inesperadamente.

 
Dr. Philippe Raymond (um membro de um grupo de médicos e cientistas chamados CHRONIMED): «Alexandre recebeu cursos regulares de antibióticos. Os cursos foram ministrados regularmente durante o primeiro período de 6 meses, mas a frequência dos cursos diminuiu após isso e a partir do segundo ano ele começou a sofrer recaídas (sim, às vezes há recaídas).
Comentário: Alguns médicos na França prescreve medicamentos anti-infecciosos para crianças autistas, os resultados são surpreendentes, entre 200 casos tratados em 6 anos, 4 de 5 crianças vêem os seus sintomas desaparecerem ou regredirem fortemente" Dr. Philippe Raymond:« Quando funciona, os resultados sobre os sintomas comportamentais e cognitivos são óbvios em apenas 3 meses. No primeiro mês, eu já vejo que essas crianças já têm uma visão mais serena da vida, eles sorriem, os seus rostos ficam mais relaxados, eles não se comportam tão mal, eles já não estão tão doentes »Alexandre avançou incrivelmente rápido na escola e também com a fonoaudióloga. Sylvie Manternach-Bancel (fonoaudióloga): «Eu posso ver a diferença entre quando faz uso de antibióticos e quando ele não faz uso por um tempo. Recentemente, nas últimas 2 semanas, Alexandre tornou-se perturbado novamente, ele foi um pouco agressivo, ele era um pouco mais delicado. Quando falei com sua mãe, ela confirmou que ele não tinha qualquer tratamento por 3 ou 4 meses, e que ela sentiu que os efeitos estavam começando a se desgastar, então talvez esteja na hora dele ser tratado novamente com outra dose de antibióticos.No subúrbio parisiense de Jouy-en-Josas, o professor Luc Montagnier está investigando a hipótese infecciosa. O pesquisador desenvolveu um método inovador que lhe permite detectar infecções latentes no sangue dos jovens com autismo.
Prof. Luc Montagnier, Prêmio Nobel de Medicina: «nós achamos que são bactérias que vêm da mucosa intestinal e que, quando a inflamação está presente, escoará através da mucosa muito frágil para a corrente sanguínea e produzem toxinas que podem atingir o cérebro. Esse é o mecanismo que estamos olhando, mas não queremos falar de uma bactéria em particular. O que sabemos é que os sinais que estamos detectando normalmente vêm de bactérias que são patogênicas para o homem.

»Comentário: Esta não é a primeira vez na história da medicina, certas doenças que por muito tempo foram consideradas doenças psiquiátricas, acabaram, de fato, sendo contagiosas, como no caso da sífilis.

 
Prof Christian Perronne, (Chefe do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário de Garches, Paris-Ouest, membro do Comité de Saúde Pública): "outro exemplo bem mais recente é o de úlceras estomacais que foram consideradas como ligadas ao estresse , pensava-se serem de origem psicossomática, agora se sabe que são devidas à bactéria Helicobacter pylori, que é tratada com 10 dias de antibióticos. Na história da medicina, vemos que muitas doenças podem ser devido aos micróbios, na verdade, depende principalmente da evolução das técnicas de diagnóstico para esses micróbios. 
»Publicações científicas americanas já estão estabelecendo uma ligação entre autismo e infecções crônicas.

 
Na França, um grande hospital universitário está prestes a lançar um estudo sobre a eficiência de antibióticos contra o autismo. 
A mãe do Alexandre já está convencida, aos 10 anos de idade seu filho tem definitivamente seu apetite pela vida de volta.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Vit. D e Autismo - GcMAF e Nagalase:

Por Claudia Marcelino.

Como muitas mães e pais de autistas ao redor do mundo inteiro, eu gosto de ler sobre autismo, estudar e estar a par de todas as pesquisas falando sobre o tema.
Participo de vários grupos de trocas de e-mails e visito páginas e blogs diariamente que tratam sobre o tema, sempre em busca de atualização e respostas de todos os tipos sobre o autismo. Os estudos que mais me interessam são referentes a parte médica da desordem.
Quando acompanhamos as notícias que pipocam na mídia todos os dias, verificamos que elas são tão abrangentes como o próprio autismo, relatam descobertas ou na maioria das vezes, relatam constatação de problemas na área genética, imunológica, gastrintestinal, celular, cerebral... sem levar a lugar algum ou mostrar soluções efetivas que contribuam com o bem estar do autista, que aponte com precisão a origem do distúrbio ou que mostre caminhos para remediar, tratar ou prevenir a síndrome.

A anos acompanhando diariamente as notícias, li alguns artigos falando sobre a falta de vit. D em gestantes como possível aumento de risco de desenvolvimento de autismo em bebês, a incidência aumentada em famílias mais ricas em relação a famílias pobres, a regiões e países frios ou chuvosos e baixa incidência de exposição solar... mas tudo sempre muito vago, sem ligar uma coisa a outra ou ir a fundo nas explicações do porque estes dados seriam importantes. Não dei a mínima importância, afinal, que raios uma vitamina que tem a ver com os ossos estaria implicada no autismo?!

Mas a uns 5 meses atrás quando comecei a tomar conhecimento das novas investidas do Dr. Jefff Bradstreet através do seu blog numa proteína chamada GcMAF, passei a ler cada vez mais sobre o assunto que acaba levando a vitamina D e a cabeça foi fervilhando com tanta informação. Um artigo foi puxando a outro e mais outro e mais outro ... uau! Quanta informação importante! Dr. Bradstreet, um médico DAN dos mais requisitados e com vasta experiência, diz que esta descoberta envolvendo o autismo é o que lhe aconteceu de mais importante nos últimos 15 anos!

E eu fiquei muito surpresa em descobrir que a vitamina D exerce controle sobre o sistema imunológico inato e adquirido, a sulfatação, a expressão genética, a resposta a todo tipo de fator ambiental, o crescimento celular com a diferenciação de células e a apoptose ... simplesmente tudo o que vemos envolvido no autismo. 

O meu objetivo com estas postagens que serão divididas porque o assunto é extenso, é organizar as idéias envolvendo todos os tópicos da vitamina D e suas implicações no autismo, gerar informação para que possamos juntos com nossos médicos, chegar a formas efetivas de tratar nossas crianças e contribuir para a melhora das suas qualidades de vida.
De forma alguma quero transformar a vitamina D numa panacéia curadora de todos os males, mas contribuir de alguma forma para que seu valor e importância no caso seja reconhecido e direcionado de acordo.



Então vamos começar pelo começo: os trabalhos do Dr. Bradstreet com a GcMAF.

Não sei como e nem por quê o Dr. Bradstreet começou a testar seus pacientes autistas para medir os níveis de nagalase.
Nagalase é uma enzima secretada por células cancerígenas. Esta enzima inibe a proteína receptora de vit D que ativa os macrófagos, a GcMAF, de forma que o sistem imunológico não reconheça o perigo deixando-as livres para se proliferarem.
Talvez o Dr. Bradstreet tenha tido o insight de testar seus pacientes autistas porque além de células cancerígenas, vírus, bactérias e fungos também segregam esta enzima nagalase provocando o mesmo mecanismo de inativação de macrófagos. Sabemos que vírus, bactérias e fungos estão intimamente ligados ao autismo. Vírus liberam esta enzima nagalase como uma substância paralisante que permite não resistência para a sua entrada na célula minando a reação imunológica e permitindo a permanência do estado viral.

Com 400 pacientes testados, 80% deles apresentaram altas taxas de nagalase, o mesmo índice de pacientes com câncer e aids! 80% destes pacientes também apresentam baixos índices críticos de vitamina D.

GcMAF e Vit D:

A Proteína Derivadora de Ativação de Macrófagos, também conhecida como Proteína Ligadora de Vitamina D (VDBP), é produzida naturalmente no nosso fígado, em seguida, secretada para a corrente sanguínea. Uma das muitas funções da GcMAF é doar um dos seus muitos açúcares para um macrófago, que, por sua vez, irá tornar-se ativado. Macrófagos (do grego: grande comedor) são células do sistema imunológico responsáveis por destruir, comer elementos patogênicos e estranhos ao corpo além de restos de células mortas, num processo conhecido como fagocitose. No cérebro estas células são chamadas de micróglias. 
Com a proteína ativadora desses macrófagos imobilizada pela nagalase, o cérebro torna-se susceptível a todo tipo de danos por substâncias que não deveriam estar lá.

Neste vídeo tem uma explicação simples de como a GcMAF é desativada por patógenos que ataca as suas moléculas de açúcar:



A GcMAF ou VDBP anda de braços dados com a vitamina D: quanto mais vitamina D, mais VDBP. Deficiência ou níveis insuficientes de vitamina D, níveis insuficientes de VDBP ou GcMAF que ainda na presença de vírus, bactérias ou fungos não os combaterão.

Todas as células cerebrais possuem receptores de vitamina D.
Nosso corpo é uma máquina perfeita e certamente ela deve ser muito importante para a regulação das funções cerebrais.

Nesta palestra do Dr. Carlos Pardo ele explica o sistema imunitário cerebral e o papel das micróglias. Por ser um latino falando inglês, é fácil de entender sua palestra, para quem sabe inglês claro, já que a palestra não apresenta legendas.




Bactérias intestinais produzem uma certa quantia de nagalase. É normal apresentarmos níveis inferiores a 0.8.
Este nível é considerado para bactérias probióticas que as produzem para se manterem vivas e livres de serem destruídas pelos macrófagos.
O interessante é que mães de autistas também apresentam níveis anormais de nagalase. Como sabemos que cerca de 90% das mulheres atualmente apresentam disbiose intestinal, muito provavelmente estes altos índices estão vindo da presença de bactérias patogênicas.
Então aqui já temos dois fatores de risco para nosas crianças:
- Baixos níveis de vitamina D na vida intrauterina com sequência na 1ª infância e flora bacteriana anormal herdada pela mãe.

Assim como a nagalase permite a proliferação de células cancerígenas, no caso de nossas crianças ela está certamente mantendo a inflamação cerebral.
Daí, concluí que a nagalase pode ser um importante biomarcador de inflamação cerebral.

A estratégia do Dr. Bradstreet é suplementar com GcMAF, sim ela pode ser feita em laboratório e, trazer os níves de nagalase a níveis normais utilizando uma proteína que o próprio sistema imunológico fabrica para se defender. Isto indicaria que o sistema imunológico estaria trabalhando corretamente se livrando dos patógenos, se livrando da inflamação e enviando os sinais corretos para o restante do sistema.
A partir daí ele trabalha com trasplante de células tronco na tentativa de recompor os danos que já foram causados.

Este tratamento é caro, experimental, complicado e ninguém sabe no que vai dar, apesar das crianças estarem apresentando respostas satisfatórias. São tentativas de pôr as coisas no rumo. É praticamente inviável para a maioria das pessoas:

- A nagalase só é testada num laboratório na Holanda com filial em New Jersey nos EUA;

- A GcMAF só é vendida na Europa (Holanda) por 660 euros para uma média de 8 aplicações;

- A GcMAF é altamente susceptível a temperatura ambiente o que gera um grande risco no transporte para locais distantes;

- Não temos médicos qualificados para acompanhar o tratamento. Só quem está aplicando este tratamento no autismo é o Dr. Bradstreet.

- A resposta ao tratamento depende da expressão genética dos genes VDR, dependendo das mutações apresentadas pelo paciente é que serão calculadas as doses que deverão ser utilizadas. Isto implica num teste  genético de nutrigenoma, só feito nos EUA, o que significa mais um gasto e de acordo com o resultado, o tratamento pode quadruplicar as despesas de medicação.


Mas... podemos aproveitar boa parte de toda essa história:

- A vitamina D é crucial para o desenvolvimento saudável e prognóstico de nossas crianças. É importante suplementá-la na gravidez e mantê-la em níveis adequados. Há uma grande discussão ainda entre os médicos do que seriam estes níveis óptimos, mas vale a pena se esforçar para descobrir. Os mais comedidos falam entre 50ng/ml a 80ng/ml e os mais entusiastas falam entre 60 e 160ng/ml;

- A GcMAF é produzida pelo fígado. Muitas de nossas crianças estão com o fígado sobrecarregado por deficiência de glutationa, problemas com desentoxicação e sulfatação. Cuidar do fígado e mantê-lo saudável, seria então de extrema importância no autismo;

- Exstem dezenas de tratamentos biomédicos disponíveis e muitas vezes eles são necessários até mesmo para clarear a situação e perceber qual o grande problema da criança, mas não devemos nos distanciar do foco: o que estaria gerando todos os sintomas da encefalopatite autística seriam: vírus, ou bactérias ou fungos, ou até mesmo, tudo junto!

- De acordo com o Prof. Marco Ruggiero, o aspartame pode interromper a função da GcMAF, assim como os corantes carragena E407 e E407a;

- Vitamina C ou curcúma ajudam a implementar o sistema imunológico;

- Faça uma alimentação que beneficie o seu sistema imunológico: alimentação fresca e saudável rica em lipídeos. Fique longe de açúcar, amidos, grãos. Uma dieta alcalina ajuda muito.

Kent Heceknlively, pai de uma menina com autismo que contribui com artigos para o blog "Age of Autism", relata uma experiência muito interessante com sua filha:
Ela não é paciente do Dr. Bradstreet, mas em maio de 2001 ele fez o exame para testar sua nagalase já que ele estava desesperado com uma série de convulsões intensas, ela apresentou um resultado de 3.3 (normal seria entre 0.35 a 0.95).
Para controlar as convulsões, eles iniciaram a dieta cetogênica.
As convulsões diminuíram em 80%, as fezes se normalizaram e ao retestar a nagalase 4 meses depois, os níveis tinham baixado para 1.7, ainda alto, mas com uma grande queda em pouco tempo. Isto levou-o a concluir que uma dieta baixa no consumo de carboidratos exerce controle sobre a carga viral.


Concluindo, mesmo que não tenhamos acesso ao tratamento do Dr. Bradstreet, podemos através das soluções apresentadas, diminuir ou até mesmo cessar o impacto inflamatório no cérebro de nossas crianças.

Referências:

O que é GcMAF: http://www.gc-maf.de/en/what-is-gcmaf.html

Informações sobre tratamento com GcMAF:
http://www.gcmaf.eu/info/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=18&Itemid=23

Vit D e Câncer: http://www.naturalnews.com/031577_vitamin_D_scientific_research.html

Vitamina D e seu papel no sistema imunológico: http://www.fasebj.org/content/15/14/2579.full

Blog do Dr. Bradstreet: http://drbradstreet.org/

Blog Age of Autism: http://www.ageofautism.com/2011/10/dr-bradstreet-nagalase-and-the-viral-issue-in-autism.html

Vit D, Autismo e doenças da civilização moderna: http://www.wholefoodsmagazine.com/columns/vitamin-connection/new-research-vitamin-d-part-5-vitamin-d-autism-and-other-childhood

GcMAF e Imunoterapia 1ª e 2ª parte:



terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O que posso fazer para ajudar meu filho com autismo?

Achei esta matéria incrível! Elucidativa e inspiradora. Pude entender melhor a cascata de eventos que se sucede no autismo e porque em muitos casos ele vai se agravando ao longo do tempo. Compreendi como meu filho chegou aonde chegou, com comprometimento nas 3 áreas descritas: gastrintestinal, imunológica e mitocondrial. Portanto, não poderia deixar de traduzir e repassar informações tão esclarecedoras.

O que posso fazer para ajudar meu filho com autismo?
Por Nancy O'Hara, MD e Szakacs Gail, MD

Tradução de Claudia Marcelino de um texto Original da Revista Autism File.



O que é o autismo?

É um transtorno do desenvolvimento caracterizado por problemas com a interação social, a comunicação e comportamentos repetitivos e restritivos?
Sim, mas isso é um rótulo, e não uma verdadeira compreensão.

É um distúrbio cerebral que só é determinado geneticamente e intratável?
Não, é uma doença geneticamente influenciada, ambientalmente disparada no cérebro e no corpo que envolve vários ciclos viciosos e é tratável.

Perturbações do espectro do autismo afetam aproximadamente um em cada 91 crianças nos Estados Unidos e uma em 57 meninos. É mais comum do que a síndrome de Down, espinha bífida, o câncer infantil, e fibrose cística juntas. Um em cada 6 crianças atualmente tem um distúrbio de desenvolvimento ou de comportamento.

Cada um dos nossos filhos é um presente enorme. Nossos presentes no espectro do autismo, estão envoltos em muitas camadas de papel de embrulho. É nosso trabalho começar a desembrulhar cada camada para permitir que os verdadeiros dons de nossos filhos possam brilhar.

Estas camadas de papel de embrulho, os ciclos viciosos, representam problemas no intestino com má digestão, absorção, defeitos nutricionais e disbiose (predomínio de bactérias patogênicas), problemas no sistema imunológico com alergias, inflamação, infecções freqüentes e distúrbios auto-imunes; problemas no sistema de desintoxicação com uma incapacidade de remover os germes, alérgenos, substâncias químicas e metais a partir de seus sistemas, e estresse oxidativo resultante de disfunção mitocondrial.

Todas as nossas crianças vivem em um mundo tóxico. Devido a problemas com o metabolismo da glutationa (a bioquímica de metilação e sulfatação e da sua capacidade para desintoxicar), nossas crianças são muito mais sensíveis às toxinas a que cada um de nós estão expostos diariamente. É como se essas crianças fossem os nossos canários. Onde eu cresci em West Virginia, eles enviavam canários às minas de carvão. Se os canários morressem, isso significava que a mina era muito tóxica para os mineiros. Devido à sua capacidade diminuída ou inabilidade para desintoxicar, as crianças com autismo são nossos canários. Precisamos ajudar nossos filhos a remover estes germes, alérgenos e toxinas de seu sistema, a fim de atingir seu pleno potencial.

Vamos olhar para cada um dos problemas médicos que os nossos filhos podem estar enfrentando. Houveram quatro grandes mudanças ao longo das últimas décadas que eu acredito terem levado à proliferação de autismo. Para os nossos filhos, há uma predisposição genética, exposição de toxinas repetidas, em seguida (quando um feto, a exposição a toxinas maternas, amálgamas, o consumo de peixe, e as vacinas, e quando um bebê e criança, exposição a antibióticos, vacinas, e toxinas em nosso ambiente e alimentos). Há a deterioração nutricional, alimentos com agrotóxicos, processados ​​e refinados.

"Há um aumento no número de vacinas a partir de 3 para 34 durante a infância e primeira infância. Finalmente, e mais importante para os nossos filhos, há um aumento da susceptibilidade a todas estas toxinas devido a uma diminuição na sua capacidade de desintoxicar devido à disfunção metabólica, incluindo o aumento do estresse oxidativo e depleção de glutationa, bem como a disfunção mitocondrial. Existem vários sinais clínicos que indicam que essas crianças têm maior susceptibilidade na infância e primeira infância.

Então, onde começamos? Com cada criança: olhe o que ele ou ela pode precisar receber ou se livrar para atingir seu pleno potencial.

Ele ou ela pode precisar de mais nutrientes, enzimas, ou antioxidantes como vitaminas A, C, D e E e glutationa. Ele ou ela pode precisar se livrar de germes, tais como leveduras ou vírus, alérgenos, como glúten ou alimentos fenólicos, ou metais como chumbo ou mercúrio. Isso pode ser um processo difícil, mas começaremos por construir a fundação, e construir um passo de cada vez. Vamos começar com o intestino.

Como Emerson disse: "O que está por trás de nós e o que está diante de nós são pequenas coisas em comparação com o que está dentro de nós." Ele poderia estar se referindo ao intestino. Sempre que começamos uma discussão sobre o tratamento do autismo, é preciso começar com o intestino. Muitas de nossas crianças têm problemas com inflamação intestinal (uma mucosa intestinal vermelha e inflamada), com disbiose (muitos maus germes, em comparação com os germes bons) e permeabilidade anormal (por causa dos germes e da inflamação, moléculas ou alérgenos atravessam a mucosa intestinal provocando alergias e sensibilidades).

Quais são algumas das pistas que o meu filho pode ter problemas de intestino?

■ Dificuldade na amamentação
■ cólica persistente
■ refluxo gastroesofágico
■ Sensibilidades alimentares
■ Falta de crescimento
■ Nádegas com marcas ou sinais
■ História de antibióticos freqüentes
■ Postura anormal
■ Manipulação da genitália / coceira anal
■ Comportamento auto-lesivo
■ Birras inexplicáveis ​​/ choros
■ Irritabilidade (especialmente antes de evacuações)
■ Pouco sono
■ Diarréia
■ Constipação
■ Inchaço
■ Dor

Como o Dr. Michael Gershon aponta em seu livro O Segundo Cérebro, tudo que nos alimenta e alimenta o nosso cérebro passa por nossa flora intestinal. Quando falamos de problemas neurológicos, como autismo, devemos primeiro começar no intestino. Então, o que a limpeza do intestino significa? Primeiro, significa tratar a constipação. Não podemos absorver e utilizar adequadamente os nutrientes ou eliminar as toxinas, a menos que tenhamos movimentos intestinais regulares e diários. A constipação é um obstáculo para todas as outras opções terapêuticas. Então, primeiro devemos restabelecer um padrão rítmico do intestino e reparado e, em seguida, olhar para as causas subjacentes tais como a retenção voluntária, negligência ou espasmos do cólon, ou flora anormal (germes).

Guia para tratamento da constipação (Em ordem de sucesso):

■ Fluidos, ameixas
■ Fibra
■ Citrato de magnésio
■ Vitamina C
■ Senna
■ Óleos(azeite, mineral)
■ Probióticos (germes benéficos)
■ Antimicrobianos / remédios antifúngicos
■ Enemas / supositórios
■ Medicamentos de prescrição

O próximo passo no tratamento do intestino está na mudança da dieta da criança. Não há tal coisa como junk food, ou é lixo ou comida. Ter uma dieta livre de alimentos processados, conservantes, açúcares adicionados e aditivos é essencial. Evite excitotoxinas (por exemplo, a cafeína, glutamato monossódico, e corantes), evitar alimentos fenólicos se o seu filho parece sensível (por exemplo, uvas e morangos), e evitar alimentos alergênicos (crianças viciam naquilo que são sensíveis). Coma orgânicos tanto quanto possível (especialmente frango, pêras, maçãs, pimentões, salsão, morangos, cerejas, uvas, espinafre, alface e batata).

Também pode ser importante remover aqueles alimentos que são mais difíceis de digerir, como glúten, leite e carboidratos complexos (amidos). Se o intestino está inflamado, tem muitos germes maus (disbiose), ou não possui as enzimas adequadas para processar os alimentos, então ele não vai absorvê-los e digerí-los adequadamente.

Pense em um alimento como o leite como uma longa cadeia de clipes. Se o intestino está funcionando bem, em seguida, a cadeia de clipes de papel é dividida, os clipes são separados (aminoácidos) e absorvidos, visto pelo corpo como o leite, e utilizado como combustível de forma adequada para o cérebro. Se as enzimas não estão adequadamente presentes, o intestino está inflamado, ou existem muitos germes patogênicos, então a longa cadeia de clipes de papel é apenas dividida em cadeias menores. Esta cadeia (chamada de peptídeo) é vista pelo organismo como um alérgeno, algo estranho, não é utilizada de forma eficaz pelo organismo, e pode imitar outros opiáceos como moléculas levando a sintomas de confusão mental, cognição pobre e comportamentos anormais, como hiperatividade e rigidez. Tudo isso acontece porque o corpo não pode efetivamente quebrar certos alimentos e usá-los como combustível.

Se as medidas acima, incluindo a remoção de alimentos alergénicos, bem como a caseína (100% durante pelo menos 3 semanas) e glúten (100% durante pelo menos 3 meses), não ajudar a aliviar os sintomas comportamentais ou curar o intestino, em seguida, considere tentar outras dietas, tais como:
- GAPS (sugerida pela Dra. Natasha Campbell-McBride),
- BED (Dieta da ecologia corporal por Donna Gates), ou
- SCD (™ dieta de carboidratos específicos por Elaine Gottschall).

Essas dietas, a SCD por exemplo, são destinadas a interromper o ciclo de absorção e disbiose por retirar alimentos dos micróbios. Dissacárideos (açúcares complexos) são mais difíceis de digerir, não são imediatamente absorvidos e, por conseguinte, danificam o intestino alimentando os germes maus (levedura, Clostridia, e parasitas). A SCD é feita apenas de açúcares simples em frutas, vegetais e mel, bem como carnes e outras proteínas para curar o intestino e, eventualmente, permitir uma boa digestão.

Além de problemas de intestino, nossas crianças também podem ter indícios de irregularidades no sistema imunológico, tais como história familiar de doença auto-imune (tireoidite, diabetes, doença inflamatória do intestino); ouvido crônico, sinusite e infecções da garganta, e alergias alimentares e ambientais ou sensibilidades. Eles também podem ter evidências de piora sazonal dos sintomas comportamentais e / ou melhoria cognitiva com febres. Estes são os sinais de alteração no sistema imunológico.

Indícios de alteração no sistema imunológico:

■ Eczema
■ Olheiras alérgicas
■ Rinite alérgica
■ Respiração bucal crônica
■ Apnéia do sono
■ Asma
■ Verrugas
■ Molusco contagioso
■ Herpes
■ Infecções fúngicas da pele

Se seu filho tiver provas de desregulação imune, o primeiro passo ainda está em curar o intestino. Outras opções a considerar podem ser anti-inflamatórios (uma criança cujas birras diminuem com o ibuprofeno é um bom candidato para posterior investigação e tratamento do sistema imunológico) e de outros imunomoduladores (por exemplo, TSO, gamaglobulinas, agonistas PPAR, Pycnogenol, a curcumina , ácidos graxos essenciais, quercetina e urtiga, para citar alguns).

Além dos problemas do intestino e imunológico, as crianças podem também ter problemas metabólicos. Problemas metabólicos são defeitos nas vias bioquímicas do nosso corpo que o estresse causa.

Por exemplo, como a pesquisa da Dra. S. Jill James tem mostrado, sabemos que a química de metilação (o processo de tomada de alimento - metionina - e transformá-lo em homocisteína e, em seguida, em última análise, a glutationa) está danificado em nossas crianças. Um local da lesão nesta via é metionina sintetase (MS) que recicla homocisteína de volta para metionina e é propensa a danos por mercúrio e outros metais pesados. Como resultado desta lesão, temos pouca metionina. Como uma outra consequência, há uma falta de glutationa (a molécula sulfurosa pegajosa que é nosso principal desintoxicante e antioxidante). A escassez de glutationa resulta em mais estresse oxidativo. É aí que o ácido folínico, a metil B-12, e os outros doadores metílicos (como betaína a / k / a TMG ou trimethylglycine) são necessários para tratar problemas subjacentes. Antioxidantes, tais como vitaminas A, E C, D, e, especialmente a glutationa são essenciais na diminuição do stress oxidativo.

Quando há estresse oxidativo, há aumento da susceptibilidade às toxinas, produtos químicos, metais pesados ​​e pesticidas, aumento da susceptibilidade a alergias e infecções, e diminuição da produção de glutationa e fluxo aumentado de toxinas. E tudo isso leva a uma disfunção mitocondrial. As mitocôndrias são as células de energia do nosso corpo e são fundamentais para todos os processos, neurológicos e outras. A função mitocondrial é afetada por metais pesados ​​(mercúrio, arsênio, chumbo, cádmio, alumínio), pesticidas, PCBs, germes e infecções, má nutrição e estresse oxidativo / glutationa reduzida.

Indícios de disfunção mitocondrial incluem:

■ Baixo tônus ​​muscular - sucção fraca, salivação excessiva, controle pobre cabeça
■ Constipação
■ PICA
■ Os distúrbios do movimento - e todos os distúrbios de postura
■ Hipotonia / hipertonia
■ Convulsões (agudas, recorrentes, hipoglicemia)
■ Juntas e articulações hiperflexíveis
■ Baixa tolerância física
■ Costas curvadas quando sentado
■ Dificuldade de se situar no espaço
■ Dificuldades motoras finas e grossas
■ Pobre coordenação olho-mão
■Atrasos na linguagem expressiva e receptiva
■ Dismotilidade gastrointestinal, constipação, refluxo
■ Enxaquecas
■ Sudorese anormal

Os sintomas neurológicos de disfunção mitocondrial podem ser fixados ou aumentados durante o estresse (por exemplo, jejum, infecções, exercícios). Os sintomas podem ser devido a perturbações do metabolismo da gordura e carboidratos(tal como com intestino má absorção e disbiose), hipoglicemia (o cérebro depende de um fornecimento contínuo de açúcar / glucose para o combustível), e produção de radicais livres (como no stress oxidativo).

Embora tenha sido originalmente pensado que apenas uma pequena percentagem de crianças com autismo tinham disfunção mitocondrial, estudos recentes indicam que os números podem exceder 40-50% das nossas crianças. Um estudo realizado por Shoffner indicou que 78% das crianças com ASD tinham defeitos da fosforilação oxidativa, um tipo de disfunção mitocondrial.

Portanto, se, além de problemas gastrintestinais e disfunção imunológica, você suspeitar que há disfunção mitocondrial, os seguintes laboratórios e intervenções devem ser considerados:

Labs - mitocondrial

Elevação isolada de AST ou ALT

Piruvato, lactato (soro, LCR)

Amônia

Creatinina quinase

Aminoácidos Comparação elevada (alanina: lisina> 2,5)

Ácidos orgânicos (elevação metabólitos de ácidos graxos)

Carnitina, livre e total

Biópsia de pele (fibroblastos - 50% imprecisa)

Biópsia muscular (histiopath, EM, mtDNSA, OXPHOS)

Intervenções mitocondriais / "Cocktail"
■ CoQ10
■ Carnitina
■ Riboflavina
■ antioxidantes (vitaminas A, C, D, E, e GSH)
■ B-6 e magnésio
■ Outros vitaminas do complexo B (B-12, o ácido folínico, tiamina)



O que posso fazer para ajudar meu filho com autismo?
1. Curar o intestino - constipação, disbiose, inflamação,

2. Evitar o que prejudica - aditivos, toxinas, alérgenos

3. Dar o que cura - nutrientes, probióticos, ácidos graxos essenciais (EFAs)

4. Corrigir problemas metabólicos e mitocondriais - metil B-12, ácido folínico, B-6, magnésio, glutationa reduzida (GSH), antioxidantes, anti-inflamatórios.


O autismo é uma etiqueta. Seu filho não é um rótulo, mas uma pessoa que sofre de problemas médicos que precisam ser descobertos, direcionados e tratados. Encontre estas pistas em seu filho, e participe de grupos de outras crianças e famílias que ajudem você a embarcar em sua jornada. Procure um médico para discutir todos os sinais, testes e intervenções para o seu filho. Confie no seu intestino e do seu filho! Boa sorte na sua jornada em direção à saúde e recuperação de seu filho!


Sistema Gastrintestinal

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domingo, 15 de janeiro de 2012

Documentário Autismo Enigma - A Teoria Bacteriana parte 2.

Em dezembro de 2011 foi lançado o documentário canadense, Autism Enigma, na rede CBC de televisão, com o propósito de investigar e divulgar o trabalho de um grupo de cientistas empenhados em estudar o autismo de forma sistêmica com origem microbiana.

As entrevistas com estes cientistas para a produção do documentário, foram transcritas e, as traduções feitas por mim, estão sendo disponibilizadas aqui no blog.


Já postei a entrevista feita com o Prof. Jeremy Nicholson.


Hoje disponho a entrevista do Dr. Sidney Finegold, autoridade mundial em biologia de bactérias anaeróbicas e grande conhecedor de doenças produzidas por estes micro organismos. Com mais de 60 anos de carreira, sua reputação é reconhecida mundialmente.
Professor emérito de medicina, microbiologia, imunologia e genética molecular da UCLA School of Medicine.
Atualmente seu foco de trabalho está no papel de bactérias intestinais no autismo; diarréia e colites associadas a antibióticos; e no papel das bactérias intestinais em doenças auto imunes. Ele descobriu que esporos de clostridia se encontram em grandes quantidades em pacientes autistas o que o levou a exploração de espécies bacterianas no autismo e, mais recentemente, a descoberta de uma cepa crucial para a desordem.





Quanto tempo tem sua carreira em microbiologia?

Bem, meu primeiro artigo foi publicado em 1951. Foi com base no trabalho que fiz como estudante de medicina no final dos anos 40 e finalmente tinha dados suficientes para publicá-lo em 51. E nesse ponto, eu e minha esposa e outro estudante de medicina todos concordaram em tomar alguns antibióticos para ver qual seria o impacto sobre a flora intestinal, e então documentamos mudanças, mesmo com as técnicas rudes disponíveis naquele momento. Então eu tenho estado no meio desde essa época. Nossa 1ª pesquisa com anaeróbios entrou pela primeira vez na nossa coleção em 1957, mas nós estávamos trabalhando com eles por vários anos antes disso.

Quando você começou a fazer uma conexão entre bactérias intestinais e autismo?

Em 1998, eu recebi um telefonema do Dr. Richard Sandler em Chicago. Ele é um gastroenterologista pediátrico, e ele tinha visto o filho autista de uma senhora chamada Ellen Bolte. Ela tinha feito um trabalho notável de revisão da literatura médica sobre o autismo e doenças relacionadas, e concluiu que esta poderia muito bem ser uma infecção bacteriana. E ela pensou que o melhor exemplo disso era o botulismo infantil, onde o organismo cresce no intestino do bebê, produz a toxina que é absorvida. Ela vai para o sistema nervoso central e produz a doença. Isso está em contraste com o tipo mais comum de botulismo onde comemos um alimento e é contaminado com a toxina do organismo e não há envolvimento do intestino em tudo. A doença ocorre diretamente.

Então, ela tinha recomendado ao Dr. Sandler que ele tratasse seu filho com vancomicina oral, o raciocínio seria que esta droga iria ser ativa contra o tipo de organismo que poderia estar causando a doença, e que seria um grupo Clostridia. Eles são Gram-positivos e a  vancomicina é particularmente ativa contra organismos Gram-positivos. Então, ele concordou em fazer isso e a criança teve uma melhora dramática, começando dentro de alguns dias e persistindo por seis semanas enquanto ele ainda usava a droga.

Isto envolveu a melhoria nas habilidades de linguagem. Ele realmente não  tinha nenhuma linguagem de antemão, mas ele pegou algumas palavras e até mesmo começou a encadear sentenças no final, como: "Não, mamãe, eu gostaria desse." Ele era muito mais maleável. Ele ouvia as pessoas e respondia. Ele olhava para as pessoas, o que era bastante diferente do seu comportamento usual. Ele não tinha mais qualquer acesso de raiva e geralmente era uma criança muito melhor, quase normal.

Que impacto o uso de antibióticos repetidamente tem em bactérias do intestino?

Os antibióticos têm um impacto sobre a flora intestinal. Praticamente todos eles têm. Alguns, quando administrados sistemicamente, não entram no intestino, de modo que não deveriam, mas a maioria dos antibióticos, mesmo administrados sistemicamente, são secretados no intestino, em certa medida. Assim, praticamente todo o tempo que nós usamos antibióticos, um dos problemas menos conhecidos é que eles têm impacto na flora intestinal. Estamos descobrindo mais e mais nos últimos anos, que a flora intestinal faz uma série de coisas incríveis para o corpo. Nossa imunidade inata é desenvolvida em virtude da exposição a partir de bactérias que vivem no intestino. E sabemos agora que pelo menos algumas formas de obesidade estão relacionadas com alterações na flora bacteriana normal. Nós não sabemos se os antibióticos estão envolvidos nesse problema em particular, mas certamente parecem estar no autismo e claramente estão na colite dificile associada ao Clostridium. 



Assim, você tem um complemento normal de organismos em seu intestino. Ela varia de acordo com sua dieta e se você tiver um problema no sistema imunológico. Se o seu sistema imunológico não está totalmente eficaz seja por problemas genéticos ou, mais comumente, por toxinas no ambiente, então você não é capaz de controlar as bactérias que saem do intestino para outras partes do corpo, como você faria se você tivesse um sistema imune normal.

Então, nós temos esse tipo de conhecimento, e em cima disso, nós sabemos que estas crianças são suscetíveis a infecções de ouvido, provavelmente também suscetíveis a outros tipos de infecção. E assim, eles recebem antibióticos, e os antibióticos para esse tipo de infecção, infecções de ouvido, têm um impacto significativo sobre a flora intestinal e tendem a selecionar certos organismos enquanto eles suprimem grande parte do resto da flora. E os organismos que tendem a persistir são Clostridia, o que é o caso da colite por Clostridium Dificile. E achamos que conta ou contribui para o problema no autismo também. Talvez não devido a Clostridia especificamente.Trabalhos recentes sugerem que há um outro organismo que é muito mais importante.

O que é este nova bactéria que você está estudando e como ela se relaciona com o autismo? 


É uma espécie bastante diferente da Clostridia. É Gram-negativa, em vez de ser Gram-positiva. Não produz esporos, mas é um organismo muito virulento. Temos visto isso ao longo dos anos em infecções graves, como envenenamento do sangue. Então, nós conhecemos o organismo, mas é difícil de cultivá-lo e fazê-lo crescer. Assim, os laboratórios como o nosso e muitos outros que trabalharam com anaeróbios por anos podem trabalhar mais e acaba por ser importante no autismo. Descobrimos isso quando algumas das mais difíceis e detalhadas abordagens moleculares para estudar a flora intestinal se tornaram disponíveis. Então, isto permite que você encontre pelo menos 1.000 diferentes organismos por grama de conteúdo fecal, enquanto que com as velhas técnicas, você poderia, eventualmente, encontrar 300 espécies diferentes. E agora, há rumores de que pode haver tantos quantos 10.000. Então, essa é uma ferramenta muito poderosa e ao usá-la, descobrimos que a flora de crianças autistas é basicamente bem diferente daquela de crianças do grupo controle normal. 

O organismo de interesse está em uma espécie chamada Proteobacteria. Nossos estudos sugerem que Desulfovibrio, uma das Proteobactérias, pode ser importante no autismo porque ela foi vista com alguma frequência, em cerca de 50% dos pacientes com autismo, mas em nenhum dos pacientes controles.

 Agora, Desulfovibrio, como o nome sugere, metaboliza composto de sulfato, como um sulfato de hidrogênio. A bactéria desulfata este composto e, você termina com sulfito de hidrogênio como o principal produto metabólico. Sulfito de hidrogênio é principalmente um composto tóxico, conhecido há séculos, na verdade, mas não conhecido por ser importante em relação às bactérias. Então, isso pode ser um mecanismo de sua ação. Além disso, a parede celular do organismo, Desulfovibrio, contém uma potente endotoxina, e endotoxinas são conhecidas por serem muito prejudiciais para as pessoas, e em modelos animais também. E provavelmente existem outros fatores que são responsáveis ​​por sua virulência.

Onde o Desulfovibrio é encontrado e como poderia entrar no corpo?

É encontrado no meio ambiente. Ele gosta do ambiente em torno dos poços de petróleo, por exemplo. E é como um produtor de toxina poderosa que o pessoal do petróleo está preocupado porque ele corrói o metal em seus aparelhos e é uma praga real para eles. Nós os ingerimos com certos alimentos, carnes, especialmente carnes cozidas. E assim, ele é encontrado em baixo número na flora normal de, provavelmente, metade das pessoas. Mas, novamente, depende da dieta, no Reino Unido, onde, provavelmente, eles comem mais carne do que nós, eles têm maior contagem em indivíduos normais de Desulfovibrio. Se você tomar antibióticos para a profilaxia ou tratamento de infecções, e se você tomar alguns que são ativos contra elementos comuns da flora normal do intestino, mas não ativos contra o Desulfovibrio e isso acontece com a maioria dos compostos, antibióticos compostos, então você tende a deixar o Desulfovibrio livre. Assim ele obtém vantagens e produz mais toxinas e, em seguida, você pode desenvolver a doença dessa forma.

Que tipo de autismo você está estudando?

Autismo regressivo é o tipo que nós trabalhamos com exclusividade. Como o nome sugere, essas crianças se desenvolvem normalmente até cerca de 18 meses de idade, e então eles começam a andar para trás. Eles perdem suas habilidades sociais. Eles não são calorosos e amigáveis com seus pais. Eles não mantêm contato com os olhos. Eles têm dificuldade com as outras crianças da mesma idade. Eles têm problemas gastrointestinais que muitas vezes são bastante surpreendentes e pode ser a principal característica de sua doença. Estes incluem a distensão abdominal, dor abdominal. A constipação é um problema principal, mas nem sempre abertamente óbvio. Eles podem ter as chamadas diarréias compensatórias, tentando livrar-se da obstrução da constipação. E eles, em casos extremos, podem bater a cabeça contra a parede; serem muito prejudiciais para si mesmos, para seus companheiros e irmãos, e até mesmo seus pais.

Por que Clostridia e Desulfovibrio são importantes no autismo regressivo?


Bem, em primeiro lugar, essas crianças só são suscetíveis ao autismo até a idade de quatro anos. Qualquer pessoa que tem autismo suspeito após quatro anos de idade, a menos que eles começaram antes da idade de quatro, não é autismo, é outra coisa.
Então, você tem que ter um sistema nervoso central que está sendo desenvolvido, em um determinado estágio crítico. Então, você tem que ter comprometimento do sistema imunológico. Isto pode ser em uma base genética, mas pensamos muito mais comumente ser devido a toxinas ambientais. Então, o palco está definido e, em seguida, a bactéria entra na criança quando os antibióticos são dados, de forma adequada ou inadequadamente. E o cenário típico para que isso aconteça é quando a criança desenvolve uma infecção no ouvido.

 Se um antibiótico beta-lactâmico, como penicilina ou uma cefalosporina, é dada, que elimina certas partes da flora intestinal, isso cria um nicho para organismos como Desulfovibrio e Clostridia crescerem a um maior número onde produzem toxina suficiente para causar a doença.

Quais são as razões para se perguntar se essa condição pode ser de alguma forma "infecciosa"?

Sim, isso leva a consideração de como essas doenças se espalham de um para outro e por que a incidência de autismo está aumentando tanto, e porque a C. difficile colite é um grande problema nos hospitais. Então, vamos começar com a C. difficile colite como o modelo. O paciente chega com Clostridium difficile. Mais uma vez, pode estar presente como flora normal. Parece ser o caso em cerca de 3% dos adultos. Mas achamos que tem sido muito bem estabelecido agora com  a C. difficile colite que quando o organismo contamina o ambiente de um hospital, é um grande problema e é responsável por propagar-se de paciente para paciente. 

Clostridium difficile, quando é exposto a antibióticos, tenta se proteger. Ele faz isso através da conversão de células bacterianas vegetativas na forma de esporos, onde podem resistir a qualquer coisa aquém de autoclavagem. Então, nós demonstramos esporos do Clostridium difficile no chão de um quarto de hospital que foi limpo após o paciente ir embora e ficar vazio por mais de um mês, e nós ainda éramos capazes de achar culturas de C. difficile. Eles sabiam que o estudo estava sendo realizado, de modo que a faxineira tentou fazer um trabalho extra na boa limpeza, e ainda assim podemos encontrá-los. Eu acho que o mesmo tipo de coisa está acontecendo no caso do autismo com o Desulfobrivio, mas ainda precisa ser documentado. Esse organismo não é um formador de esporos, mas tem outros mecanismos, várias enzimas que o protegem contra a exposição ao oxigênio e outras influências deletérias. Então, Desulfovibrio pode viver no ambiente por meses a fio em seu estado vegetativo até que as condições sejam melhoradas e tenha a oportunidade de sobreviver e se multiplicar.

Como o trabalho do Dr. MacFabe se relaciona com o seu?

Nós não temos a conexão completa que temos de ser capazes para dizer que o trabalho do Dr. MacFabe se encaixa como chave e fechadura com o que estamos fazendo, mas parece uma possibilidade provável. Dr. MacFabe pega certos compostos que são subprodutos da atividade de bactérias no intestino, nós os chamamos de cadeia curta de ácidos graxos e injeta-as no cérebro de ratos o que leva a um conjunto de sintomas e achados que são características do que vemos no autismo em humanos. 

Então, pode ser um modelo animal muito bom para nós, e de modo que seria muito útil. A pesquisa seria acelerada consideravelmente se soubéssemos que um modelo animal é confiável e que poderíamos fazer um monte de manipulação das bactérias no intestino de ratos e economizar tempo em termos de chegar com respostas que se aplicam aos seres humanos. Agora, a Clostridia realmente produz alguns dos compostos que o Dr. MacFabe usa em seu modelo e a Desulfovibrionão, mas ela faz isso de uma forma indireta. Em outras palavras, não produz esses compostos em si, mas leva a sua produção de uma forma indireta. Assim, ambas as coisas se encaixam com sua hipótese e com o seu modelo animal.

Você pode comentar sobre a conexão dessas bactérias com os alimentos que comemos? 


Bem, acho que estamos começando a apreciar que a dieta é extremamente importante. Tem um impacto definitivo sobre a flora intestinal e o impacto pode ser bom ou ruim, dependendo da dieta. Acho que precisamos estudá-la ainda mais, mas houve um estudo feito onde os sujeitos, os voluntários que não estavam doentes, concordaram em ingerir várias dietas diferentes com intervalos entre elas e tudo que escolheram para comer normalmente. O que mostrou concordância clara com uma dieta rica em carne no conteúdo, carne cozida, e crescimento de Desulfovibrio

Então, eu acho que isso é uma vantagem importante. Além disso, outros têm encontrado ao longo dos anos que determinadas dietas beneficiam as crianças autistas. Há a dieta sem glúten e sem caseína, que é difícil de fazer, demorada e cara, mas muitas crianças autistas melhoram às vezes de forma significativa com essa dieta. Há também a dieta de carboidratos específicos, que é ainda mais difícil de fazer e mais cara, e que é útil para outras crianças autistas. O filho de Ellen Bolte que citamos aqui, por exemplo, não respondeu a dieta sem glúten e sem leite, mas respondeu bem à dieta de carboidratos específicos.

O que você acha sobre o futuro da pesquisa das bactérias intestinais e sua relação com o autismo?

Nós achamos que as bactérias são muito importantes no autismo, como eu mencionei e, sabendo o que as bactérias fazem em outras circunstâncias, é fácil visualizar a disseminação dessas bactérias entre irmãos de crianças autistas. E nós vemos agora mais casos múltiplos nas famílias do que víamos antes e um aumento da frequência de autismo, provavelmente por causa da disseminação desses organismos, através do ambiente e até mesmo a transferência direta de uma pessoa para outra. 

A coisa mais encorajadora sobre tudo isso é que sabemos muito sobre as bactérias e, se soubermos com certeza que as bactérias estão envolvidas no autismo, teremos formas de combatê-las. 

Sabendo o que sabemos sobre as bactérias, podemos visualizar uma vacina que poderia ser dada por via oral. Seria muito bem tolerada em todos os aspectos e construiria anticorpos em outras partes do sistema imunológico que combatem Clostridia eDesulfovibrio, e  poderiam não só controlá-la uma vez já estabelecida, mas poderia impedi-la inteiramente. Assim, poderá chegar o dia que teremos uma vacina que poderia ser dada como qualquer outra vacina como a da pólio, por exemplo, para impedir totalmente a doença e eliminá-la. 

Mas, além da espera para a vacina, podemos estar trabalhando no desenvolvimento dessas bactérias boas que nós conhecemos. E não sabemos o suficiente sobre elas, por isso temos de fazer mais pesquisas. Mas temos coisas chamadas probióticos. E você vai ouvir e ver um monte de anúncios para este ou aquele iogurte, que supostamente são bons e complementados com muitos probióticos. Você dificilmente pode comprar sorvete hoje em dia, especialmente sorvetes a base de iogurte, sem adição destas coisas. Isso porque é uma boa publicidade. Mas a formação científica, não é sólida. Não há pesquisas para provar que esses alimentos podem fazer algo de bom para o autismo, por exemplo. Mas existem maneiras de colocar boas bactérias de volta para lutar contra as más, e assim que tivermos pesquisas feitas suficientes para saber quais determinados tipos de bactérias, e sub-tipos, são absolutamente as boas, sem um tiro pela culatra em nós , então poderíamos colocá-las em probióticos.

Não muito tempo atrás as pessoas pensavam que o autismo era uma condição permanente, mas, agora, há sugestões de que ele pode ser, pelo menos, parte reversível? 


A reversibilidade do autismo é uma proposição muito emocionante. Como indiquei, crianças que tiveram por até um ano ou mais, dentro de 2-3 semanas de antibioticoterapia estão muito melhores, e é dentro desta possibilidade que podemos manter a melhoria e levá-la a todo o caminho de volta para uma criança normal se tratarmo-as precocemente. Tem estado muito na imprensa leiga, recentemente, a importância de diagnosticar o autismo cedo e sugestões feitas para médicos e pais a respeito de como se pode suspeitar sobre o autismo e verificar o diagnóstico. Tenho medo de que quando a criança ficar mais velha, quando eles entram em sua adolescência e, principalmente, na idade adulta, poder ser muito menos reversível.
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